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EP ou CD?

Tempos de música líquida

Fui convidado a escrever sobre o tema “CD ou EP?” no intuito de dizer, a partir da minha experiência e reflexões, qual melhor caminho e descobertas de cada formato.

por Rapha Moraes

Bom, começo utilizando a ideia do sociólogo Polonês Zygmunt Bauman, quando diz: “Vivemos em tempos líquidos, nada é pra durar”, pra ilustrar o texto.

Tudo é muito rápido e passageiro. As músicas de sucesso, os filmes de maior bilheteria, o livro de maior vendagem, o maior número de likes no facebook ou visualizações em um vídeo no youtube. Até as relações entre as pessoas, arrisco.

São tempos onde a busca do fim nunca foi tão mais importante que o meio do processo. Existe aquela sensação que a “fama” está mais ao alcance de todos hoje, com a internet, e aí rola essa busca desenfreada e desesperada por aceitação. Dá até medo! Parece que esses últimos 10, 15 anos, nos ocasionaram uma lobotomia coletiva e que se a gente espremer a esponja que temos em mão, com nossas construções, existe grande risco de ela estar seca, sem nada pra escorrer.

A internet é algo muito novo e a rede social se tornou tão interessante e libertadora, quanto destrutiva. Junta isso com o tempo das coisas hoje em dia, e temos poucos que se dedicam ou conseguem ter a paciência de conceber algo no tempo interno da criação e não no tempo que o mundo exige. E aí? Aí surge a música liquida. Sempre com pressa e que não foi feita pra durar.

A forma de se ouvir música também foi prejudicada. Antes se ouviam discos em sons ótimos que praticamente todo mundo tinha dentro de casa, ou cds em aparelhos como boas referências de som. Hoje boa parte das pessoas tem sua relação com a música através das sofríveis caixinhas de som de seus notebooks.

 

ep gravação curitiba

 

Bom, tudo isso que parece um grande choramingo é pra tentar contextualizar o que se passa na cabeça de nós músicos quando estamos pensando em como desenvolver nossa música. E aí vem o questionamento principal: Faço música por que? Se a resposta for profunda o comentário pra tudo que falei lá em cima é : “Foda-se! Vou fazer do meu jeito e ficar feliz com o que faço”.

Em relação ao registro do material acho que as perguntas certas a se fazer são:

“Por que?” e “Pra quem?”

Se a resposta estiver diretamente conectada com a busca de adentrar na indústria musical, sem uma relação direta com seu desenvolvimento artístico, creio que o caminho não esteja aqui. Single atrás de single já resolve isso e sacia o desejo de todos. Depois de famoso, faz um cd pra aproveitar o momento e tá lindo. Business, man! Business!

Porém, o artista ou a banda que tem aquele desejo de se descobrir, encontrar ou ir mais a fundo em sua música com certeza a resposta está no EP ou CD. Independente do discurso que reina por aí de que se fazer um disco não tem muito sentido em tempos atuais.  (Não tem sentido pra quem?)

E cada um, EP e CD, em um momento certo.

Se a banda ou artista está em descoberta no começo de um processo ou carreira, o EP é uma ótima escolha onde ele pode trabalhar e produzir umas 5 faixas por exemplo. Nisso ele já vai conseguir se ouvir, experimentar, se entender melhor e ainda respeitando um processo de amadurecimento inicial.

O  CD é um retrato mais profundo, ousado e fiel do momento do artista.

Pra quem gosta de música pra valer, de fazer ou ouvir, um CD é uma obra completa, onde o artista se revela ou revela suas ideias de forma mais intensa.

Um mergulho naquele mundo!

É como ler um livro. Assim é “ler” um cd.

A mesma relação que um leitor apaixonado tem ao ler uma obra de Pablo Neruda, Eduardo Galeano ou um romance interessante, por exemplo; é a de um apreciador de música ao sentar pra ouvir um disco de Chico Science, Titãs, Miles Davis ou Beatles.

Não importa o gosto musical ou o estilo.

Seria lindo ver um grupo de pessoas se encontrando na casa de alguém com objetivo de curtir um disco, do Safadão ou da Poderosa. Sabe? Faixa por faixa, se deliciando com os sons e músicas. Seria uma cena épica!

O difícil é que essa música líquida que vende muito em pouco tempo e logo depois some, não faz parte dessa busca artística que cito.

Aí o papo é outro e muito aguado. Até parece meio Roma antiga com aquela velha, mas atual história de pão e circo, sangue, carne e sexo.

Fica a opção e decisão pra quem escuta e pra quem faz música.

Qual caminho a seguir?

 

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