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Técnica versus Feeling

A música é feita do quê?

A primeira técnica que eu lembro que aprendi na vida foi a de amarrar os sapatos, afinal, realmente não consigo me lembrar do dia em que eu aprendi a andar, muito menos do dia em que aprendi a falar.

POR BRUNO SGUISSARDI

 

tecnica musical

Foi meu irmão quem me ensinou tal façanha, lembro que eu odiava aquele sentimento de dependência, toda vez que meu sapato desamarrava, e achava patética a cena de um adulto ali abaixado, de joelhos resolvendo um problema que era meu, me sentia muito desconfortável.

Até que meu irmão me libertou:

“Faz um lacinho, passa o cadarço em volta, depois passa por dentro, puxa e pronto!!”

Uma técnica que eu levo comigo onde quer que eu vá há uns 30 anos, e até hoje, toda vez que amarro meu sapato, lembro do meu irmão.

Para se fazer quase tudo na vida precisa-se aplicar uma técnica.

Comer, dirigir, escrever, andar de bicicleta, enfim…

Será que eu tenho que necessariamente ter uma técnica avançada para fazer cada uma dessas coisas?

Quem define isso é o seu desejo.

O senhor Wikipédia diz assim:

“A técnica responde ao interesse e à vontade do homem de transformar seu ambiente, buscando novas e melhores formas de satisfazer suas necessidades ou desejos. ”

Aplicados à arte, a necessidade e o desejo sempre serão os principais combustíveis para se chegar ao objetivo principal: Expressar o que se sente.

E o quão técnico eu devo ser para ser considerado um bom músico?

Vamos pensar…

Será que o “feeling” de um baterista de heavy metal que nasceu na Finlândia, com seu pedal duplo voraz, fazendo todos os “Head Bengers” chacoalharem as cabeleiras, é igual ao feeling de um baixista de samba do Rio de Janeiro, que com seus graves marotos faz todo mundo dançar só no sapatinho?

Será que um guitarrista de Punk Rock que nasceu na periferia de São Paulo, necessariamente tem que ter o conhecimento teórico musical do maestro regente da orquestra sinfônica da Bélgica?

O fato é: A soma das suas vivências, todos os momentos, pensamentos, sentimentos, coisas que só você passou, resultam na sua exclusiva verdade, resultam em quem de fato você é. E do desejo de expressar isso tudo, vem a necessidade de aprender os caminhos para fazê-lo. Cada caminho tem seu grau de dificuldade, uns exigirão mais habilidade, outro menos, o que importa é que a mensagem seja passada e se possível compreendida.

Sua verdade estabelecerá um contexto, e a partir disso você saberá o quanto de técnica você vai precisar ter para executar tal ideia.

Existem infinitas possibilidades de estilo e linguagem musicais, o grande barato é achar a que te traduz, nem que você tenha que misturar várias para fazer a sua própria (mais legal ainda!). No que diz respeito a arte não existe certo ou errado, passar uma mensagem genuína e verdadeira é o que de fato importa.

Afinal, se o ato de amarrar o cadarço dos sapatos pode despertar sentimentos tão profundos em um individuo, imagine o poder que o ato de executar uma canção pode ter!!

1 Comment

  1. Puta texto. Parabéns. Eu gostaria de tê-lo escrito, porém, como vc escreveu, partiu compartilhar.

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