A mixagem é o processo da produção musical (aprenda mais sobre o processo todo neste artigo AQUI) em que você pega todo o material gravado e mistura. O objetivo da mixagem é juntar todas as tracks de forma que as emoções transmitidas pela música ganhem forma e potência.
Sim, a mix é a grande responsável por isso! Mixar é mais que balancear e organizar a música; é entender o que a música quer expressar, desde sua composição, e fazer tudo isso emergir. A “mistura" das tracks é realizada usando principalmente equalização, compressão e efeitos, e pode ser digital, analógica ou híbrida (saiba mais sobre as diferenças entre elas AQUI).
Cada engenheiro de áudio tem seu próprio modus-operandi e o que vou falar aqui é bem pessoal, não é regra e nem tutorial ok? São as MINHAS práticas de mixagem. Pra começar, toda vez que recebo uma música para mixar eu procuro saber o que é que o artista está ouvindo; ou seja, saber quais são suas influências atuais me ajuda a entender onde ele quer chegar com sua própria música e como ele imagina que ela vai soar. Muitas vezes quem entra em contato comigo é o produtor e não o artista, então é ele quem vai me passar estas referências. Quando tem produtor envolvido ele geralmente me entrega também uma “rough mix“, que é uma mixagem realizada pelo produtor e artista com a intenção de mostrar qual é a vibe da música. A “rough mix” é um bom norte, que acabo usando até o fim do processo de mixagem.
Na prática posso trabalhar uma mix de duas formas diferentes:
Em ambos os casos eu estudo a música e as referências de forma sistemática, para aguçar meu lado criativo. Levo entre 3 e 5 dias para fazer uma mix. Após essa primeira mixagem entregue, espero o feedback de todos os envolvidos e temos dois caminhos: realizar ajustes ou finalizar o arquivo que vai para a master.
Atualmente trabalho com o processo de mixagem híbrido, em que utilizo plugins e hardwares externos. Utilizo Pro Tools HDX com 32 in-outs, uma console feita por Rupert Neve para Amek como summing, compressores Retro 176, SSL BussCompressor, Avalon VT-747SP; Equalizadores BAE 1084, SSL XL 9000 e Focusrite RED 2; efeitos digitais da Lexicon 960L. Nesse post vou chamar a atenção para o Retro 176:
seu projeto vem do clássico UA 176, feito por Bill Putnam na década de 60. Esse Limiting Amplifier é valvulado e dá uma característica única para vocais. Em todas as minhas mix tenho passado a voz principal por ele e os resultados são realmente incríveis. Vou fazer um vídeo mostrando o quanto ele esquenta o som!
O input da minha mix varia conforme o estilo musical, mudando os plugins e a quantidade de canais que vão para o summing da mesa. Algumas vezes acabo realizando a mix ITB (in the box) e processo o sinal dos instrumentos que passam pelo hardware externo. Minha escolha acontece baseada no estilo musical; quando o som é mais duro e precisa ser uma parede, em que o ouvinte precisa ouvir tudo muito grande, acabo optando por fazer a mix ITB; quando preciso de mais profundidade no som, uma “sujeira” e os graves mais macios acabo optando por fazer o summing.
Essa mix foi realizada ITB; externo utilizei um equalizador BAE 1084 (neve 1073) e o compressor Retro 176. A Lexicon liguei digitalmente direto no Pro Tools. O disco da Jenni tem 5 músicas e em cada uma delas utilizei um processo diferente de mixagem. À medida em que forem lançadas, vou compartilhar aqui meu trabalho com elas.
Nessa mix fiz summing com 14 canais, e salvo engano, dividi os subgrupos assim:
1-2 Bateria e percussão
3-4 Baixo e Synth Bass
5-6 Violão
7-8 Synths
9-10 Vozes principais
11-12 Backs
13-14 Efeitos
Na época dessa mix eu ainda não tinha os 176, então utilizei o CL-1B da Softube nos vocais e equalizei no BAE 1084 (neve 1073). Esses 14 canais saíram pelo Stereo Out da mesa e passaram pelo BusCompressor da SSL; utilizei esse compressor no buss pensando em amaciar e controlar os graves.
E agora estou esperando você pra bater um papo sobre mixagem comigo! Use os comentários, e-mail, telefone, ou seja old school mesmo e venha tomar um café no estúdio.
Abraço!
Nico
1 Comment
Muito legal Nico! Acho muito interessante como o engenheiro de mixagem vê a musica diferente do produtor/artista. Como produtor, tenho foco no processo criativo como arranjo, instrumentos e execução. Muitas vezes ficamos tão imersos no processo que não conseguimos (e talvez não devemos) ver a questão técnica da coisa tão a fundo. Já o engenheiro de mix usa da questão técnica como ferramenta artística para dar “cores e sabores” a musica. Acho muito legal entender as etapas do processo e que temos profissionais para cada uma delas.