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A mixagem é o processo da produção musical (aprenda mais sobre o processo todo neste artigo AQUI) em que você pega todo o material gravado e mistura. O objetivo da mixagem é juntar todas as tracks de forma que as emoções transmitidas pela música ganhem forma e potência.

Sabe aquele arrepio na pele que você sente quando escuta tua música predileta?

Sim, a mix é a grande responsável por isso! Mixar é mais que balancear e organizar a música; é entender o que a música quer expressar, desde sua composição, e fazer tudo isso emergir. A “mistura" das tracks é realizada usando principalmente equalização, compressão e efeitos, e pode ser digital, analógica ou híbrida (saiba mais sobre as diferenças entre elas AQUI).

Cada engenheiro de áudio tem seu próprio modus-operandi e o que vou falar aqui é bem pessoal, não é regra e nem tutorial ok? São as MINHAS práticas de mixagem. Pra começar, toda vez que recebo uma música para mixar eu procuro saber o que é que o artista está ouvindo; ou seja, saber quais são suas influências atuais me ajuda a entender onde ele quer chegar com sua própria música e como ele imagina que ela vai soar. Muitas vezes quem entra em contato comigo é o produtor e não o artista, então é ele quem vai me passar estas referências. Quando tem produtor envolvido ele geralmente me entrega também uma “rough mix“, que é uma mixagem realizada pelo produtor e artista com a intenção de mostrar qual é a vibe da música. A “rough mix” é um bom norte, que acabo usando até o fim do processo de mixagem.

Na prática posso trabalhar uma mix de duas formas diferentes:

  1. uma delas é quando a música ainda não está completamente idealizada pelo artista/produtor. Neste caso o leque de opções fica muito aberto e eu preciso afunilar. Para isso eu mesmo realizo uma rough mix - com um pouco mais de acabamento -, em que organizo o espectro de frequências, headroom (dinâmica da música) e alguns efeitos, e envio para o cliente para que ele replique com suas observações. Após o feedback do cliente eu parto para o processo que vai gerar a primeira mixagem da música efetivamente.
  2. a outra é quando entro direto na vibe do som. Quando artista/produtor já sabe exatamente o que espera ouvir lá no final do processo. Este é o ideal sempre, pois sinaliza que a música já veio amadurecida e posso ir tranquilo ao objetivo. Quando isso acontece, consigo enviar de primeira a mixagem que para mim é a final e a melhor para a música. O processo de mixagem definitivamente não é o momento para tentativas e erros, ou para perceber que faltaram instrumentos ou que o arranjo carecia de intervenções. Mas isso é papo pra outro post.

Em ambos os casos eu estudo a música e as referências de forma sistemática, para aguçar meu lado criativo. Levo entre 3 e 5 dias para fazer uma mix. Após essa primeira mixagem entregue, espero o feedback de todos os envolvidos e temos dois caminhos: realizar ajustes ou finalizar o arquivo que vai para a master.

Atualmente trabalho com o processo de mixagem híbrido, em que utilizo plugins e hardwares externos. Utilizo Pro Tools HDX com 32 in-outs, uma console feita por Rupert Neve para Amek como summing, compressores Retro 176, SSL BussCompressor, Avalon VT-747SP; Equalizadores BAE 1084, SSL XL 9000 e Focusrite RED 2; efeitos digitais da Lexicon 960L. Nesse post vou chamar a atenção para o Retro 176:

seu projeto vem do clássico UA 176, feito por Bill Putnam na década de 60. Esse Limiting Amplifier é valvulado e dá uma característica única para vocais. Em todas as minhas mix tenho passado a voz principal por ele e os resultados são realmente incríveis. Vou fazer um vídeo mostrando o quanto ele esquenta o som!

O input da minha mix varia conforme o estilo musical, mudando os plugins e a quantidade de canais que vão para o summing da mesa. Algumas vezes acabo realizando a mix ITB (in the box) e processo o sinal dos instrumentos que passam pelo hardware externo. Minha escolha acontece baseada no estilo musical; quando o som é mais duro e precisa ser uma parede, em que o ouvinte precisa ouvir tudo muito grande, acabo optando por fazer a mix ITB; quando preciso de mais profundidade no som, uma “sujeira” e os graves mais macios acabo optando por fazer o summing.

 
 

Destrinchei duas mixagens aqui:

Jenni Mosello - Vou Gritar

Essa mix foi realizada ITB; externo utilizei um equalizador BAE 1084 (neve 1073) e o compressor Retro 176. A Lexicon liguei digitalmente direto no Pro Tools. O disco da Jenni tem 5 músicas e em cada uma delas utilizei um processo diferente de mixagem. À medida em que forem lançadas, vou compartilhar aqui meu trabalho com elas.

Tuyo - Amadurece e Apodrece

Nessa mix fiz summing com 14 canais, e salvo engano, dividi os subgrupos assim:

1-2 Bateria e percussão

3-4 Baixo e Synth Bass

5-6 Violão

7-8 Synths

9-10 Vozes principais

11-12 Backs

13-14 Efeitos

Na época dessa mix eu ainda não tinha os 176, então utilizei o CL-1B da Softube nos vocais e equalizei no BAE 1084 (neve 1073). Esses 14 canais saíram pelo Stereo Out da mesa e passaram pelo BusCompressor da SSL; utilizei esse compressor no buss pensando em amaciar e controlar os graves.

E agora estou esperando você pra bater um papo sobre mixagem comigo! Use os comentários, e-mail, telefone, ou seja old school mesmo e venha tomar um café no estúdio.

Abraço!

Nico

1 Comment

  1. Gustavo Schirmer disse:

    Muito legal Nico! Acho muito interessante como o engenheiro de mixagem vê a musica diferente do produtor/artista. Como produtor, tenho foco no processo criativo como arranjo, instrumentos e execução. Muitas vezes ficamos tão imersos no processo que não conseguimos (e talvez não devemos) ver a questão técnica da coisa tão a fundo. Já o engenheiro de mix usa da questão técnica como ferramenta artística para dar “cores e sabores” a musica. Acho muito legal entender as etapas do processo e que temos profissionais para cada uma delas.

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